“Inês de Castro”: O regresso de Isabel Stilwell

Isabel Stilwell dispensa apresentações quando se fala em romances históricos em Portugal e “Inês de Castro. Espia, amante, Rainha de Portugal” (Editor: Planeta de Livros) é o seu mais recente livro. Este é o segundo livro da autora que leio, depois de “D. Manuel. Duas irmãs para um rei” que li em 2020. Quando se gosta de História é difícil resistir a um romance histórico, ainda para mais quando retrata uma das figuras femininas portuguesas mais controversas. Eternizada para a história como a amante de D. Pedro, O Justiceiro, simboliza uma das histórias de amor mais marcantes vividas no Reino de Portugal. Com a narrativa a decorrer entre Castela e Portugal, ficamos a conhecer Inês de Castro através de uma lente diferente, desde criança até ao momento da sua morte. A linha narrativa explorada por Isabel Stilwell explora a tese de que Inês de Castro foi uma espia colocada na corte de D. Afonso IV com o claro objectivo de fazer enamorar Pedro, um jovem príncipe gago permanentemente humilhado pelo seu poderoso pai.
“Inês de Castro”: O que me transmitiu este livro?
Fãs de romances históricos sabem o quanto as tramas da corte se podem revelar verdadeiramente espantosas! São essas as tramas de Isabel Stilwell explora com o estilo narrativo a que já nos habituou. Este livro marca o regresso à personagem feminina como elemento central de toda a história e que escolha fantástica a desta Inês que se dizia enfeitiçar todos à sua volta com os seus olhos verdes profundos.
Tal como senti com o livro sobre D. Manuel, este “Inês de Castro. Espia, amante, Rainha de Portugal” revelou uma profunda pesquisa realizada pela autora, que muito admiro por honrar desta forma a História do nosso país e por permitir que ela chegue a mais pessoas. Um livro de não-ficção nem sempre é a primeira escolha da maioria dos leitores, por isso há que destacar este aspecto dos livros da autora. “Inês de Castro. Espia, amante, Rainha de Portugal” transporta-nos para um Portugal de cavaleiros, de intrigas, de lutas pelo poder, de amores proibidos e de muitos filhos bastardos. Em algumas das partes, sentimos quase surgir os trovadores e a literatura de cordel, descrevendo uma sociedade de olhos postos nos campos de batalha pelo poder, reservando as mulheres para segundo plano. Ou será que viviam mesmo só na sombra dos homens? Gostei bastante de todo o papel de destaque dado as diferentes mulheres com que se cruzou Inês de Castro e não posso deixar de ter um grande carinho por Zulema, personagem fictícia, mas que encarnou em si todo o saber e conhecimento, colocando-o ao serviço da sua Inês, eternamente perseguida pela brilhante estrela de Algol desde o momento do seu nascimento.
Outro aspecto a que é impossível ficar indiferente é todo o processo de profunda caracterização dos espaços em que se desenrola a narrativa que a autora nos proporciona. É impossível não nos sentirmos directamente transportados para os locais de toda a trama, que nos faz mesmo ter vontade de fazer os mesmos caminhos e de construirmos o nosso próprio roteiro de viagem em torno do livro que estamos a ler. Isto é mesmo algo que me consegue cativar verdadeiramente num romance histórico e que me faz ter vontade de não abandonar a leitura. Acho que é essencial sentirmos esta envolvência e apenas assim conseguimos captar melhor toda a história que temos diante de nós.
Apenas senti um pequeno sabor agridoce no final do livro… Sem querer dar spoilers sobre o final a quem ainda não leu este livro, gostava que a autora tivesse explorado um pouco mais da fase após a morte de Inês. Gostava de ter visto descrito o momento da coroação de Inês e a afirmação do amor de Pedro perante toda a corte. Acho que teria sido interessante explorar um pouco mais dessa parte e imaginar como teria sido o Pedro após a morte de Inês, esse amor imortalizado para sempre na Quinta das Lágrimas.
O livro “Inês de Castro. Espia, amante, Rainha de Portugal” foi-me gentilmente cedido pela Planeta de Livros.
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