“Raparigas em chamas”: Impossível ficar indiferente a este livro!!

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“Raparigas em Chamas” marca o meu primeiro contacto com a escrita de C. J. Tudor. Apesar do género de policial e thriller fazer parte de um dos meus preferidos, ainda não me tinha arriscado a leitura desta escritora inglesa e agora pergunto-me porque não o fiz mais cedo. Conhecida entre os leitores portugueses pelos seus sucessos “O homem de giz”, “Levaram Annie Thorne” ou “Os outros”, esta apaixonada pelos livros de Stephen King pauta a sua escrita por enredos marcantes que levam o mestre King a dizer sobre os seus livros que “se gostam das coisas dele, vão gostar deste livro” (na opinião sobre “O homem de giz”). Os seus livros têm sempre um lado obscuro, que explora os medos mais escondidos de todos nós, impondo ritmos aos seus thrillers que não deixam ninguém indiferente.

“Raparigas em chamas” não foge à regra e a sua sinopse deixa antever um pouco do que pode ser encontrado neste livro:

Uma vigária pouco convencional tem de exorcizar o passado sombrio de uma aldeia remota, assombrada pela morte e por desaparecimentos misteriosos, no novo thriller explosivo e inquietante da autora best-seller de O Homem de Giz. Há quinhentos anos, mártires protestantes foram queimados. Há trinta anos, duas adolescentes desapareceram sem deixar rasto. Há algumas semanas, o responsável da paróquia local enforcou-se na nave da igreja. A reverenda Jack Brooks, mãe solteira de uma filha de quinze anos e dona de uma consciência pesada, chega à pequena aldeia com esperança de um novo começo. Em vez disso, encontra Chapel Croft repleta de conspirações e segredos, e é recebida com um estranho presente de boas-vindas: um kitde exorcismo e um cartão que a avisa: «Nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nem oculto que não venha a conhecer-se.» Quanto mais Jack e a sua filha, Flo, exploram a localidade e conhecem os seus estranhos habitantes, mais elas são atraídas para as antigas divisões, mistérios e suspeitas. E quando Flo começa a ver imagens de raparigas em chamas, torna-se evidente que há fantasmas que se recusam a ficar enterrados. Descobrir a verdade pode ser mortal, num lugar com um passado sangrento, onde todos têm algo a esconder e ninguém confia num estranho.

Vamos conhecer a minha opinião sobre este livro?!

 

“Raparigas em chamas”: O que achei deste livro?

Conforme escrevi no início desta opinião, “Raparigas em chamas” é o primeiro livro que leio de C. J. Tudor, por isso não tinha qualquer referência quanto à sua forma de escrever ou à intensidade da sua narrativa. Não sendo os livros da autora interligados, ler agora “Raparigas em chamas” ser ler os anteriores acabou por não ser um problema. Este livro foi uma extraordinária surpresa desde as suas páginas iniciais, prendendo desde as páginas iniciais.

“Reza a história que os fantasmas da Abigail e da Maggie assombram a capela e aparecem aqueles que correm perigo. Se alguém vê as raparigas em chamas, alguma coisa má lhe vai acontecer. Foi por isso que os aldeãos começaram a fazer as bonecas. Acreditam que podem afugentar os espíritos vingativos das raparigas” (Pág. 49)

Não sei se acontecerá com todas as pessoas, mas os livros em que se aborda a religião e os comportamentos que dela derivam deixam-me sempre bastante curiosa. Tramas passadas nos corredores do Vaticano, por exemplo, são impossíveis de resistir para mim. Num registo diferente, este livro de C. J. Tudor explora, ainda que subtilmente, as questões associadas ao exorcismo na igreja dos dias de hoje, das crenças mais ou menos exacerbadas e a forma como o género serviu, demasiadas vezes, de justificação para as decisões mais intensas.

“A crença deve ser uma escolha consciente, não uma coisa que nos é martelada na cabeça quando somos demasiado jovens para compreender ou questionar. A fé não é uma coisa que se passe de pais para filhos como uma jóia de família. Não é tangível ou absoluta. Nem sequer para um sacerdote. É uma coisa em que estamos sempre a trabalhar, como o casamento ou os filhos” (Pág. 39)

“Todos os géneros de comportamentos femininos indesejáveis podiam ser atribuídos a possessão demoníaca e como tal “curados” por exorcismos abusivos e violentos. Tudo feito em nome de Deus” (Pág. 143)

As personagens da Reverenda Jack Brooks e da sua filha, Flo, com os seus segredos algures no passado, trazem uma dimensão à narrativa que me deixou curiosa desde o início. Houve detalhes no comportamento de Jack que me deixaram, desde cedo, com a “pulga atrás da orelha” e que me mostravam que haveria algo mais nesta personagem peculiar. Para além de todos aspectos sabiamente interligados e que dão a este thriller um ritmo a que é impossível não ficar rendido, C. J. Tudor está de parabéns por trazer para a sua narrativa questões que, felizmente, estão a aparecer cada vez mais em livro. Os efeitos negativos que as redes sociais podem ter – promovendo a confiança em quem está do lado de lá sem questionarmos -, a doença mental e degenerativa e o papel da Igreja nos dias de hoje faz com que este livro seja muito mais do que um thriller. É uma reflexão sobre a condição humana, a sua capacidade de fazer o bem e o mal e a forma como as crenças se vão modificando ao longo dos tempos. É uma história que vai além das páginas do livro e que nos prende de uma forma marcante. Em várias das passagens deste livro, muitas vezes pensei em como uma adaptação ao grande écran, com a banda sonora certa, não se transformaria num daqueles livros de nos deixar com os cabelos da nuca arrepiados…

E finalizo a minha opinião com esta frase:

“Todos temos a capacidade para fazer o mal. E a maior parte de nós consegue encontrar uma razão que o justifique. Não acredito que as pessoas simplesmente “nasçam más”. A criação supera a natureza. Mas acedido que alguns de nós nasceram com um potencial maior para fazer o mal. Talvez qualquer coisa genética, quando combinada com o meio, produza monstros” (Pág. 376)

 

“Raparigas em chamas”: A História por detrás da história

Este livro é inspirado nas perseguições aos protestantes que caracterizaram os séculos XVI e XVII no Reino Unido, em que se verificou a dualidade entre a religião católica e a protestante. Foi uma época profundamente marcada por perseguições em nome da religião, sendo a religião perseguida determinada pela religião praticada pelo monarca reinante. William Tyndale ficaria para sempre associado como o responsável pela publicação da Bíblia impressa, facilitando o acesso a todos e a difusão da Igreja Protestante. Seria com Maria I, filha de Henrique VIII e de Catarina de Aragão criada na religião católica, que os protestantes viriam a ser alvo de algumas das piores perseguições religiosas, surgindo assim a história dos mártires protestantes que serve como pano de fundo a “Raparigas em chamas”.

 

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O livro “Raparigas em chamas” foi-me gentilmente cedido pela Planeta de Livros.

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