Afonso Catalão: A despedida em “A Noiva Judia”

O nome Afonso Catalão dispensa apresentações entre os leitores portugueses fãs do género policial e thriller. “Nascido” no livro “A Célula Adormecida” em 2016, este professor universitário com uma profunda paixão pelo mundo árabe passou a fazer parte do universo criado por Nuno Nepomuceno. Nos últimos anos, o mês de Janeiro tem sido sinónimo de novo livro desta série e Janeiro de 2022 não foge à regra! “A Noiva Judia” chega hoje às livrarias, depois da revelação da capa e sinopse no mês passado. Este é último livro com Afonso Catalão como protagonista (será mesmo, Nuno Nepomuceno?!) e hoje conto-lhe todos os motivos pelos quais deve ler este livro.
O ponto de partida para a narrativa é a história verídica da morte do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini. Um corpo é encontrado numa praia e, partir daí, mergulhamos num livro repleto de momentos de throwback que deixará os fãs de Afonso Catalão com vontade de reler todos os livros anteriores. Conheça agora a minha opinião sobre este livro, espero que goste e que fique com curiosidade em ler!
Afonso Catalão e os segredos escondidos pela “A Noiva Judia”
Tal como em “A Morte do Papa” e “O Cardeal”, encontramos novamente Adam Emanuel. “Atacado” por um aparente bloqueio criativo, vê-se enredado pela teia sedutora de Sofia Conti. Dedicada a aproveitar a fortuna do seu marido, a viúva Sofia reaparece enfeitiçando Emanuel e arrastando-o para Veneza, afirmando que “é quando os nossos inimigos dormem, que devemos preparar-nos para os surpreender” (pág. 57). Confirmei a dimensão de viúva da Máfia que senti em “O Cardeal” e que me fazia antever o seu papel explosivo em toda a série de Catalão. E não me enganei…
“A Noiva Judia” faz-nos recordar as aventuras e vivências de Afonso Catalão desde “A Célula Adormecida”. Nuno Nepomuceno recuperou personagens como Ahmad Fahran e David Catalão (de “A Célula Adormecida”), Pedro e o Cardeal (de “A Morte do Papa”), Richard Waterhouse (de “A Última Ceia”) e o casal Esther e Jonathan Reis Campbell (de “Pecados Santos”). Permite, assim, aos leitores matar saudades e compreender alguns fios soltos de livros anteriores. Esta reintrodução está bastante bem conseguida, sendo sempre algo bastante interessante de acontecer numa série. Os leitores gostam e agradecem! Também de destacar o bom humor que Nuno imprime nas suas histórias, incorporando breves referências a si próprio, mostrando um sentido de humor apurado. Afinal, quem melhor do que nós próprios para brincarmos com aquilo que somos?!
Este é um livro muito centrado em Adam Emanuel, ou não fosse dele o corpo encontrado numa praia nas proximidades de Veneza. É ao longo de “A Noiva Judia” que se descobre mais sobre a essência desta personagem, sobre a sua história familiar e sobre o que o levou escrever os seus livros. É também nestas páginas que descobrimos mais sobre Lizzie Emanuel, suposta ghost writer do seu próprio irmão, presa pela morte de Laura Emanuel, tia de ambos. Ao longo do livro, vamos descobrindo alguns dos segredos mais escondidos da família, compreendendo como Adam personifica o mal, enquanto uma acusação injusta arrasta Mark, irmão de Adam com um futuro no sacerdócio, para o lado mais negro que um ser humano pode ter.
Impossível não destacar o aprofundar da dimensão familiar de Afonso Catalão e da sua relação quase parental com o Imã Yusef. Regressamos ao dia da morte da mãe de Catalão e do afastamento do pai. E, claro… O que seria de Catalão sem o seu ponto de contacto do SIS. Neste livro, regressam as conversas nos jardins da Gulbenkian e vemos como uma amizade, mesmo que estranha, se pode sobrepor a tudo o resto. Gostei também de ver o descrever de curiosidades sobre a tradição judaica associada ao nascimento e à morte e sobre o Alcorão.
Este foi o primeiro livro lido em 2022 e foi uma óptima forma de começar. Só consegui largá-lo quando terminei a leitura, na certeza que irei ter saudades de Afonso Catalão. Mais uma vez, Nuno Nepomuceno mostra porque reúne tanto carinho entre os seus leitores e porque nos tem conseguido deixar ansiosos por cada novo lançamento. Vamos ter saudades!
Afonso Catalão e “A Noiva Judia”: O Resumo Da Minha Opinião
O que mais gostei neste livro?
- O regresso de personagens dos diferentes livros da série, permitindo “matar” saudades de alguma delas e compreender melhor alguns fios soltos de livros anteriores.
- A relação entre Afonso Catalão e o seu ponto de contacto do SIS, mostrando como podem surgir fortes laços de amizade mesmo nas situações menos previsíveis.
- A construção de todo o historial familiar da família Emanuel, desvendando novos acontecimentos aos leitores e mostrando como acontecimentos da nossa infância e adolescência nos podem moldar para sempre.
- A utilização de histórias reais como ponto de partida para a construção de uma narrativa ficcionada, o que para mim é sempre algo que me desperta bastante a curiosidade sempre que começo a leitura de um novo livro.
- A inevitável referência à pandemia por COVID e a forma como ela terá afectado alguns dos acontecimentos ocorridos entre o final de “O Cardeal” e o momento actual que encontramos neste livro.
- O bom humor de Nuno, que consegue sempre olhar para si próprio de uma forma divertida, introduzindo esse momento de humor especial em vários dos seus livros. Para mim, já funciona como uma imagem de marca de Nepomuceno!
- A edição gráfica do livro e o tipo e tamanho de letra que, para mim, é o ideal e não cansa a leitura!
O que menos gostei neste livro?
- O facto de ser o último de Afonso Catalão… Vou ter saudades das suas aventuras!
Fique a conhecer os outros livros da série Afonso Catalão
A Célula Adormecida, classificação Goodreads – 4,24
Pecados Santos, classificação Goodreads – 4,45
A Última Ceia, classificação Goodreads – 3,92
A Morte do Papa – classificação Goodreads – 4,15
O Cardeal, classificação Goodreads – 4,35
O livro “A Noiva Judia” foi-me gentilmente cedido pela Cultura Editora.
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