Marta Oliveira da Silva: Sonhar através de “um dia bom” – Parte 1

Marta Oliveira da Silva transmite uma extraordinária energia positiva, mesmo no meio da adversidade. Autora do livro infantil “Um dia bom”, ilustrado pela Carolina Branco, é a primeira entrevistada para o Clube dos Superpoderes. E do que se trata este clube?
Há muito que as Leituras descomplicadas não existem sem a partilha de livros infantis e das leituras que faço com o meu filho. O Clube dos Superpoderes nasce da minha paixão pelo livro infantil e da forma como vejo que este livro poder ser utilizado por pais, professores e educadores. Um clube especialmente pensado para as crianças, mas em que os adultos têm o papel principal de os ajudar a desenvolver os seus superpoderes. Durante o ano de 2024 serão doze os superpoderes explorados através do livro infantil. Janeiro começa com o superpoder de sonhar e, em cada mês, haverá sugestões de leitura e de actividades e mais algumas surpresas em torno de cada superpoder.
Em Janeiro, decidi entrevistar pessoas que tivessem demonstrado o superpoder de sonhar de alguma forma. Marta Oliveira da Silva conseguiu-o através da publicação de “Um dia bom”, um livro com uma mensagem muito especial para miúdos e graúdos. Lê-se na sinopse que este livro é “um álbum ilustrado para toda a família, que nos relembra a importância de olhar para a vida com um coração agradecido, de procurar um dia bom nas coisas mais simples do dia a dia e de acreditar que o melhor está sempre para chegar“. Vamos conhecer melhor a Marta e o que ela tem para nos contar sobre o superpoder de sonhar?
Marta Oliveira da Silva: Uma mulher que inspira a sonhar
Marta e Carolina com o seu livro “Um dia bom”
1. A Marta Oliveira Silva transmite-nos energia positiva no seu perfil de Instagram, mesmo quando a vida lhe trocou as voltas. Numa entrevista ao podcast Páginas com graça referiu que se deve “abraçar sempre o que a vida nos dá”. Quem é esta Marta e de onde vem este desejo de abraçar a vida?
A Marta é uma mulher cheia de planos e sonhos, mas que foi sempre muito racional, muito certinha e responsável, fruto também do contexto familiar e de ter crescido “depressa demais”. Formada em psicologia e curiosa por natureza, senti sempre uma enorme necessidade de conciliar vários interesses, como a cerâmica e a escrita criativa, entre outras formas de arte. Desde que fui mãe, percebi que a vida nos escapa completamente ao controlo e que devemos aprender a aproveitar mais cada momento, a divertirmo-nos e a procurar sempre a alegria do presente.
2. Como foi possível ter este sentimento de abraçar sempre o que a vida nos dá quando recebeu o diagnóstico de que a sua filha de dois anos tinha leucemia?
Porque acredito que nada acontece por acaso, que tudo o que vivi e passei na vida me preparou para receber esse momento, para acolher essa realidade.
Aceitar a doença sem vitimização é o primeiro passo para a viver positivamente.
A quantidade de amor que recebemos desde o diagnóstico da Luz foi transbordante e comovente, fez-me ver a vida numa outra dimensão, fez-me conhecer a humanidade que vive num contexto de doença oncológica; tornou-me pequenina/vulnerável e ao mesmo tempo forte e capaz de enfrentar tudo o que a vida nos dá.
3. A sua filha tem um nome inspirador e doce, Luz, e o seu livro fala-nos da importância de vermos “um dia bom”, mesmo no meio de uma tormenta. Como surgiu a ideia de escrever este livro? E como nasce a colaboração com a Carolina Branco, ilustradora do livro?
Esta história é muito bonita, pois na verdade eu já tinha escrito o texto muito tempo antes da Luz ficar doente. Em setembro de 2022 conheci a Carolina pessoalmente, combinamos um café para trocar ideias sobre livros infantis, gostávamos de fazer um juntas. Eu enviei-lhe o esboço da minha história “um dia bom” e a Carolina ficou de se inspirar nos desenhos. Como eram frases bastante abstratas e sem uma narrativa muito concreta, ela teria total liberdade para ilustrar, desde que fosse muito alegre e colorido. Sem inspiração, foi depois de ver uma fotografia da Luz a sorrir no IPO, em dezembro de 2022, enquanto lhe rapavam o cabelo, que chegou a inspiração para os maravilhosos desenhos da Carolina: seria a história da Luz. Tornou-se assim num livro em tons de cinzento, com pinceladas de cor. Porque no meio da tempestade, há sempre alguma coisa a que nos podemos agarrar, há sempre vida e alegria à nossa espera.
4. Se existe algo que associamos aos mais novos é a sua capacidade de sonhar sem limites, algo que nem sempre temos como adultos. E os livros infantis podem ser óptimas portas abertas para este mundo de sonho. Como vive os livros infantis com os seus filhos e que importância têm esses livros para os seus sonhos?
Vivo os livros infantis com o mesmo ou maior entusiasmo que os meus filhos. Com a mesma seriedade com que vivo intensamente a literatura, os romances que devoro.
A literatura infantil é o primeiro contacto que temos na vida com este universo do sonho, de outros mundos, outras vidas, outros lugares e outras possibilidades. É viajar sem sair do nosso quarto.
Gosto sobretudo de perceber que à medida que lhes leio uma história, cada um está a tirar lições e ensinamentos diferentes, à escala do seu nível de entendimento e cognição, e da beleza desse encontro geracional. Os meus filhos também me fazem reparar em pormenores do livro que eu não teria notado e através desses momentos, conheço-os melhor, geram-se conversas futuras. São momentos muito ricos e de enorme intimidade.
5. Por último, que mensagem especial gostaria de deixar a outras famílias que estejam a passar pelo mesmo que passou e o que lhes pode dizer quanto a continuar a sonhar?
É nas alturas mais tempestuosas da nossa vida que nos redescobrimos; é nos desafios que descobrimos a nossa melhor versão.
A doença de um filho muda-nos para sempre, mas está nas nossas mãos decidir como vivemos essa doença, como vamos ver a vida a partir daí. Sonhar passa a ser ainda mais importante; não um sonho utópico ou irrealista, mas a certeza de que muitos dias bons estão para vir, porque estão mesmo.
Muitas portas se abrirão no meio do caos. Acima de tudo, é importante manter o foco, viver um dia de cada vez, valorizar todos os pequenos momentos e pedir ajuda, rodeamo-nos das nossas pessoas e entregar aquilo que não podemos controlar.
Agradeço à Marta a disponibilidade e grande simpatia que demonstrou desde o momento em que lhe enderecei o convite para esta entrevista. O mundo das redes sociais tem muitas coisas boas e a energia e a inspiração que recebemos dos outros é uma delas. Obrigada, Marta, pelo carinho e pelas suas palavras nesta entrevista!
Todas as fotos usadas neste artigo foram disponibilizadas pela Marta Oliveira da Silva.
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