Janeiro é o mês que assinala o Dia em Memória das Vítimas do Holocausto e, este ano, estou a marcar esta data com a iniciativa “Trilogia de Auschwitz” e a leitura de três livros de Primo Levi. Quando se fala de sobreviventes do Holocausto que contaram a sua história ao mundo, Primo Levi será provavelmente um dos nomes mais conhecidos de todos nós. Não me recordo bem quando foi que li o primeiro livro de Levi e já perdi a conta a quando comecei a ler sobre a Segunda Guerra Mundial… Apenas me recordo que um dos seus livros mais conhecidos, “Se isto é um homem”, me foi recomendado numa Feira do Livro de Lisboa e, desde então, o meu olhar sobre o Holocausto nunca mais foi o mesmo. Quando se lê sobre uma época dramática como a do Holocausto, importa olhar para o ser humano que nos escreveu palavras tão intensas, tão duras, deixando uma alma exposta e nua. E, por isso, hoje partilho um pouco sobre a vida de Primo Levi, para que se homenageei, através dele, todos os que sucumbiram em nome de um ideal.
Primo Levi: O químico apaixonado pelas palavras
Primo Levi nasceu em Turim, Itália, em julho de 1919, nos primeiros anos após o primeiro grande conflito em território europeu. À data, Itália era um reino que existiu até 1946, altura em que se passou a uma constituição republicana. De origem judaica, Primo Levi fez um percurso como estudante, tendo-se formado em Química, em 1941, na Universidade de Turim. Nesta altura, a Segunda Guerra Mundial já espalhava os seus tentáculos por diferentes territórios europeus, com novas regras para todos os judeus. Reflexo disso foram as dificuldades que Levi encontrou durante o seu percurso enquanto estudante universitário e que culminou com a inscrição da expressão “raça judia” no seu diploma.
Com a evolução da guerra em Itália, a assinatura do armistício entre o governo italiano e os Aliados e o nascimento da República Social Italiana no norte de Itália, criada por Benito Mussolini e com fortes influências germânicas, Levi viria a integrar o Movimento Justiça e Liberdade que lutava contra o Nazismo. Esse foi o seu passaporte para Auschwitz, onde chegou em Fevereiro de 1944 e onde ficaria até à data da sua libertação, a 27 de Janeiro de 1945. Estes onze meses de permanência num dos campos de concentração mais conhecidos marcaria para sempre este homem, havendo mesmo quem diga que a alma de Levi morreu neste campo. Ter escapado ao último patamar da Solução Final resultou de uma conjugação de factores, como saber falar um pouco de alemão e ser formado em Química, que lhe permitiu ver os seus conhecimentos aproveitados pelos Nazis. Podemos conhecer um pouco dessa parte da sua vida no seu livro “O sistema periódico”, um conjunto de contos publicado em 1975 e considerado um dos melhores livros sobre ciência de sempre.
A vida de Primo Levi no pós-guerra foi feita de uma profunda dedicação à escrita, funcionando como catarse de toda a sua vivência como prisioneiro de Auschwitz, o principal tema das suas obras. Trabalhou até 1977, ano em que passou a dedicar-se por completo à palavra e à narrativa de uma vida profundamente marcada por um sofrimento atroz e impossível de quantificar. Viria a morrer em Abril de 1987, não sendo a sua morte totalmente clara. Até hoje persiste a dúvida se terá sido morte natural ou se Levi terá cometido suicídio, fruto da depressão que se diz que estaria atravessar. Nunca saberemos… Mas uma coisa é certa: Primo Levi será sempre um dos primeiros nomes a surgir na nossa cabeça quando se fala no Holocausto e os livros que todos deveriam ler algum dia.
Alguns dos livros de Primo Levi para além dos que compõem a Trilogia de Auschwitz
- Assim foi Auschwitz, com Leonardo De Beneddetti
- Se não agora, quando?
- Auschwitz, cidade tranquila