Clube Leituras descomplicadas: Um ano, doze datas e doze livros

O ano de 2021 marcou a criação do Clube Leituras descomplicadas. Quando partilhei que iria assinalar doze datas com doze livros, nunca pensei que iria ser uma experiência tão boa!! O clube permitiu-me conhecer pessoas novas, explorar a obra de autores que não conhecia e aprender mais sobre a História da Europa. O primeiro ano do clube girou muito em torno do tema do meu projecto “Ler é respeitar a história”, ler sobre o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, e o saldo deste ano de leituras é mesmo muito bom!
E porque esta altura do ano pede sempre uma reflexão sobre o ano que está a terminar, hoje trago um pequeno resumo sobre todos os livros do mês do Clube Leituras descomplicadas. Vamos a isso?
- Janeiro foi dedicado a assinalar a libertação de Auschwitz com o livro “Uma vida adiada”, de Dita Kraus (Editor: Desassossego). Dita foi bibliotecária neste campo de concentração e dedicou muito do seu tempo a proporcionar momentos mais agradáveis às crianças que viviam em Auschwitz. Este livro, ao contrário de muitos outros livros de memórias de sobreviventes de campos de concentração, prolonga a sua narrativa bastante para além de 1945, permitindo conhecer a história de vida de Dita até à sua velhice, as suas dificuldades em Israel e a visão de quem quis deixar um pequeno legado ao Mundo.
- Fevereiro foi o mês da Black History e que outro livro escolher senão “A cor púrpura” de Alice Walker (Editor: Suma de Letras)?! Um livro vencedor de um Pulitzer e com uma adaptação cinematográfica sobejamente conhecida da maioria das pessoas só poderia criar elevadas expectativas na sua leitura. Este é um livro que poderá não ser fácil de se entranhar na leitura… Escrito sob a forma de romance epistolar e com uma forma de redacção muito própria de uma jovem rapariga sem estudos, foi extraordinariamente traduzido pela Tânia Ganho e é claro o profundo trabalho de tradução que temos neste livro. Foi um livro muito marcante, com partes algo gráficas e que poderão chocar pessoas mais sensíveis, mas que deve constar das leituras de todos nós. É um livro de aprendizagem e que permitiu ir ao mais profundo do preconceito vivido na sociedade americana e que ainda hoje ecoa nas relações entre as pessoas.
- Março não poderia assinalar outra efeméride que não o Dia da Mulher e o livro do mês foi “As falsas memórias de Manoel Luz”, de Marlene Ferraz (Editor: Editora Minotauro). Com o mote de celebrar a mulher na literatura, este foi um dos livros mais especiais que li em todo o ano do Clube Leituras descomplicadas. Este é um livro profundamente poético, que nos envolve num abraço quente com aroma de chá de maçã e canela e que nos desperta um carinho muito especial pela personagem de Manoel Luz. É um livro que se saboreia lentamente e que nos preenche o coração de leitor de uma forma muito especial. Um dos livros que mais recomendo a todas as pessoas!
- Abril assinalou o mês da Liberdade e que mês especial foi este com a leitura de “Madrinhas de guerra”, de Marta Martins Silva (Editor: Desassossego). Na entrevista que fiz à Marta Martins Silva, descobri que este livro é muito mais do que um mero livro de não-ficção. Dar voz aos Antigos Combatentes e às cartas trocadas com as suas Madrinhas de guerra é trazer para a actualidade uma época da História de Portugal a que nem sempre é dado o devido valor nos bancos da escola. Ao ler este livro e olhar para o “Cartas de Amor e de Dor” que foi recentemente lançado, vejo que Marta Martins Silva tornou esta sua missão de vida e devemos ser profundamente gratos por alguém que olha os nossos militares com profundo respeito e carinho!
- Maio assinalou a relação entre o Estado Novo e a Igreja, tendo o livro escolhido sido “A noite passada”, de Alice Brito (Editor: Planeta de Livros). Mais uma autora portuguesa, mais uma extraordinária experiência de leitura!! Um romance de amor mas que vai bastante para além das linhas narrativas típicas de um romance… É História, é acreditar na mudança, é lutar pela liberdade e arriscar perante a adversidade. É não-ficção contada sob a forma de romance e que dá que pensar naquilo que foi a vida das várias gerações que viveram durante o Estado Novo e que lutaram por uma liberdade tão desejada. Este livro é uma homenagem a todas essas pessoas e a escrita de Alice Brito é muito especial, pelo que este livro e os outros da autora têm de fazer parte das vossas escolhas para 2022. E que boa foi a oportunidade proporcionada pela Planeta de Livros de conversar com a autora!
- Junho foi altura de assinalar os primeiros sinais de um conflito mundial com o livro “Heróis do Ar”, de Jaime Oliveira Martins (Editor: Cultura Editora). Este livro é o elogio máximo aos pilotos portugueses que lutaram nos céus de França durante a Primeira Guerra Mundial. Tal como nos dois meses anteriores, este foi um mês dedicado a explorar um pouco mais sobre a História de Portugal a que nem sempre se dá o devido relevo. Livros que elogiem os militares que tombaram sob a bandeira de Portugal merecem a nossa mais profunda homenagem, olhando a sua abnegação como uma capacidade de entrega que nem sempre se consegue compreender. E este livro é exactamente uma homenagem a todos os jovens que, como Artur Rebelo, se apaixonaram pelas máquinas que andavam lá em cima e que lutou contra tudo e contra todos para se atirar de cabeça para um conflito que nem seria o seu, à primeira vista.
- Julho foi momento de conhecer mais sobre os Czares da Rússia com o livro “Nós, os Romanov”, do Grão-Duque Aleksandr Mikhailovich (Editor: Alma dos Livros). Se os primeiros capítulos deste livro podem não prender de imediato, a partir do momento de Aleksandr começa a partilhar mais sobre as suas aventuras enquanto marinheiro numa volta ao mundo sob a bandeira da família Romanov, o livro ganha uma dimensão bastante mais interessante. É um livro que requer alguma atenção na leitura por todos os imensos nomes e familiares que nos são apresentados ao longo deste livro de memórias. É explorada a sociedade e a época em que viveram Nicolau II, último Czar da Rússia, e o seu pai e todos os acontecimentos que levaram ao terrível desfecho vivido em Ekaterimburgo. Para fãs sobre a História da Rússia, este será um livro a incluir mesmo nas vossas leituras e que gostei bastante de ler.
- Agosto homenageou as vítimas do Nazismo e do Estalinismo com a leitura do livro “Os fornos de Hitler”, de Olga Lengyel (Editor: Crítica, chancela da Planeta de Livros). Se me é permitida a expressão… Este foi o maior murro no estômago sob a forma de livro que me chegou às mãos. Mais um relato de uma sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, este escrito muito pouco tempo depois do final da guerra. A enfermeira Olga Lengyel relata-nos a sordidez a que podem chegar os seres humanos em nome de uma ideologia e foi um dos livros mais gráficos que li no ano de 2021 sobre o Holocausto. É um livro duro! Aqui não existem pinceladas cor-de-rosa a mascarar as atrocidades. É uma leitura necessária e que se impõe para que não se repita um dos momentos mais negros da História Mundial. Um dos melhores livros que li este ano e que entrou para os favoritos dentro do tema.
- Setembro marcou o início da Segunda Guerra Mundial e que outro livro escolher senão “Munique”, de Robert Harris (Editor: Editorial Presença). Sinto-me uma fã cada vez mais confessa dos thrillers históricos de Robert Harris e, mais uma vez, a leitura de um livro deste autor não desiludiu! Retratando os acontecimentos em torno do Acordo de Munique e que poderia ter impedido o início da Segunda Guerra Mundial, este é o livro certo para quem gosta de espionagem, de encontros secretos e de aprender História ao ritmo de um thriller. Sem dúvida, um livro que recomendo a todas as pessoas e que gostaria muito de ver adaptado ao cinema como já aconteceu com outro livro do autor, “O oficial e o espião”.
- Outubro assinalou a criação do gueto de Varsóvia com o livro “Os anagramas de Varsóvia”, de Richard Zimler (Editor: Porto Editora). Este foi o primeiro livro que li deste autor… E que estreia foi esta!! Este era um livro que já andava há algum tempo pelas estantes aqui de casa, à espera do momento certo para ser lido. Se gostam daquele tipo de livros que mais parece um filme que nos prende desde o início, este é o livro que têm de ler. Um livro quase a fazer lembrar “O coleccionador de ossos” e que me fez descobrir mais um autor de que quero ler mais livros. Entre os leitores do clube, este foi um livro que também agradou bastante e as opiniões positivas foram bastantes!
- Novembro foi o mês que assinalou o armistício da Primeira Guerra Mundial com o livro “A oeste nada de novo”, de Erich Maria Remarque (Editor: Saída de Emergência). E Novembro foi o mês que me trouxe o livro que mais me custou a ler, não pelo tema mas sim por não me ter conseguido envolver totalmente com a escrita de Remarque. Apesar de ter achado interessante toda a descrição da vida nas trincheiras, da juventude que se perdeu neste primeiro grande conflito vivido em território europeu, não foi um livro que me tivesse preenchido totalmente as medidas.
- Dezembro foi dedicado a assinalar o novo reforço para os Aliados com o livro “A noite dos assassinos”, de Howard Blum (Editor: Crítica, chancela da Planeta de Livros). Se existe algo que acho extraordinário é existirem sempre livros que nos conseguem acrescentar algo de novo ao que já lemos anteriormente. “Aconteceu exactamente isso com “A noite dos assassinos” que descreve todo o plano de Hitler para assassinar Roosevelt, Churchill e Estaline na Conferência de Teerão. Acho que ainda não tinha lido nada sobre este episódio e gostei bastante de ver um livro de não-ficção escrito com uma abordagem de thriller. Acho que a investigação do autor está muito bem conseguida, com um texto final dedicado a esclarecer aspectos dessa investigação, o que acho um aspecto sempre bastante positivo! Um livro que gostei muito de ler e que recomendo a todos os que gostam de uma boa história sobre espionagem.
E este é o resumo de um ano de leituras muito ricas, com muitas partilhas e que foi mesmo muito extraordinário! Um agradecimento muito especial à Desassossego, Editora Minotauro, Planeta de Livros, Cultura Editora, Alma dos Livros, Editorial Presença e Porto Editora por todo o apoio dado ao Clube Leituras descomplicadas através de diferentes iniciativas durante o ano de 2021.
Leave a Reply