“Nós tínhamos de acontecer”: Quando os livros são vida!
“Nós tínhamos de acontecer” é o primeiro livro que leio de Gayle Forman, um young adult que promete juntar, numa mesma história, o importante significado da família, do amor e da amizade na vida de todos nós. Pensando na época a que estamos a chegar, esta é uma daquelas histórias que cheira a Natal, em que existe a energia necessária para ultrapassar obstáculos, problemas e para que se coloquem para detrás das costas todas aquelas histórias familiares que podem impedir a reunião em família e partilha.
Partilho contigo a sinopse para saberes um pouco mais sobre a história que vais poder encontrar em “Nós tínhamos de acontecer”:
Para Aaron Stein, os livros eram milagres – até deixar de acreditar. Apesar de passar os seus dias a trabalhar na livraria alfarrabista dos pais, o único livro que Aaron consegue ler é sobre a extinção dos dinossauros. É um conceito que ele percebe demasiado bem, agora que o irmão e a mãe desapareceram e os seus amigos o deixaram:
Aaron está sozinho com o pai, um homem desgovernado, numa livraria que morre aos poucos, numa cidade isolada do mundo, onde parece que já ninguém lê. Não é estranho, por isso, que Aaron decida vender a livraria à primeira oportunidade que surge, pensando que esta é a única saída que lhe resta. Mas Aaron estava longe de imaginar o otimismo do amigo ou o entusiasmo dos madeireiros desempregados, que veem na livraria falida um belo projeto para se ocuparem. E muito menos esperava conhecer Hannah, uma belíssima e corajosa música que pode bem ser aquele acontecimento inevitável pelo qual Aaron tanto esperou. Todos eles vão ajudar Aaron a compreender e aceitar o que perdeu, o que encontrou quem é e quem quer ser – porque a destruição não leva necessariamente à extinção; e às vezes conduz ao nascimento de algo inteiramente novo.
“Nós tínhamos de acontecer”: O que senti nesta leitura?
Uma das coisas que me deixou bastante cativada em conhecer esta história foi o facto da narrativa se centrar no significado que os livros podem ter na vida das pessoas, tornando-se os seus salvadores no meio da tormenta. É isso que senti na personagem de Aaron Stein e na forma como ele olha os livros como o seu porto de abrigo e os agentes catalisadores de toda a energia de que necessita para fazer frente a acontecimentos familiares algo traumáticos, como a dependência de drogas do seu irmão e do abandono da sua mãe, que não aguentou a morte do filho e seguiu a vida por um caminho diferente do do seu pai. Existe também uma livraria independente numa localidade perdida no interior dos Estados Unidos, onde não existe a agitação de uma Big Apple e onde locais como a mercearia ou o café podem ser os únicos locais de maior vida. É esta livraria que funciona como agente aglutinador entre as pessoas da comunidade e mostra o verdadeiro significado de se trabalhar para e por um objectivo comum que aquece o coração de todos os que se envolvem!
“Os livros são órfãos, mas são os nossos órfãos e por isso empilho-os cuidadosamente num canto, com o carinho que eles merecem” (pág. 13)
Esta foi uma das frases que achei mais especial em todo o livro! Transmite a essência de tudo aquilo que eu sinto desde que me tornei leitora ainda em criança. Os livros são órfãos até ao momento que encontram o seu leitor e ele o recebe no calor dos seus braços e partilham com eles a doce viagem de uma leitura em que nada ficará como antes. Ao longo de todo o livro “Nós tínhamos de acontecer” vamos vendo a referência a uma longa lista de livros que se adaptam a cada um dos eventos da história e que Gayle Forman junta numa lista no final do livro para que possamos explorar em maior detalhe. Os livros são especiais e tal como se costuma dizer que existe uma canção para cada momento da nossa vida (como acabamos por sentir isso com a personagem de Hannah de quem Aaron se aproxima), sinto que também existe o livro certo para cada fase da nossa vida e é isso que torna a leitura tão especial! E estas duas frases transmitem mesmo isso:
“Continuo a ler, recordando o motivo por que costumava adorar livros. Porque nos mostram, em muitas palavras e em muitos mundos, que não estamos sós” (pág. 226)
“– Será que as respostas a todas as perguntas da vida podem ser encontradas nos livros? – Claro que sim – responde ele – E é isso que fã deles milagres” (pág. 229).
Claro que não pude deixar de sorrir por ver o Aaron interessado por dinossauros, com mesmo interesse genuíno e brilho nos olhos que vejo no meu pequeno leitor… Ainda que, pelos acontecimentos da sua vida, a vida desses dinossauros acabe por ser a materialização de um destino a que não se pode fugir e a noção de que, muitas vezes, já fomos atingidos pelo comboio a alta velocidade e continuamos presos à nossa vida anterior, sem ter a consciência clara de que tudo já mudou e nós precisamos de seguir em frente… “– Os dinossauros são reconfortantes? – Não propriamente eles, mas a lembrança de que tudo acaba. Os dinossauros. A família. As pessoas. A raça humana” (pág. 105).
Para além do papel central que os livros possuem em toda a história e do papel essencial que uma livraria independente pode ter na união de uma comunidade, o livro aborda o tema das dependências, quaisquer que elas sejam, e há que também dar crédito à autora por isso.
“Se tu ou alguém que amas se encontrarem a lidar com problemas de abuso de substancie dependências, fica sabendo que não estão sozinhos. E à medida que avançares na tua viagem, seja ela qual for, tenta percorrê-la com compaixão. O perdão é muito complicado. Perdoarmos os outros pelos seus tropeções é ainda mais complicado. Perdoarmo-nos a nós próprios é o mais complicado de tudo” (pág. 252).
As dependências começam pelos mais diversos motivos, mas não necessitam de significar o abandono, o virar de costas ou a falta de empatia. E sente-se isso mesmo neste livro e acho que é uma mensagem extremamente importante a que nos é passada a este nível.
Um young adult que se lê muito bem, de narrativa fluída, com momentos divertidos e outros mais sérios, mas que nos ajudam a focar naquilo que mais importa: os laços de família e de amizade sem os quais nunca seremos capazes de viver verdadeiramente a nossa vida seres humanos. Coloca “Nós tínhamos de acontecer” na tua lista de leituras a fazer durante a época de Natal e tenho a certeza de que não te irás arrepender! Podes juntar-lhe a leitura do livro “As falsas memórias de Manoel Luz”, um dos livros que mais gostei de ler este ano, e sinto que terás uma quadra com o coração mais quentinho!
Outros livros de Gayle Forman editados em Portugal
- Para onde vou… (Novembro de 2018)
- Deixa-me ir (Abril de 2017)
- Eu estive aqui (Novembro de 2016)
- Apenas um ano (Julho de 2016)
- Apenas um dia (Setembro de 2015)
- Se eu ficar (Setembro de 2014)
- Espera por mim (Setembro de 2014)
O livro “Nós tínhamos de acontecer” foi-me gentilmente cedido pela Editorial Presença.
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