Dia da Mulher: Hoje escrevo para ti…

Neste Dia da Mulher, mais do que escrever para todas as mulheres do mundo, escrevo para ti, meu filho. Neste dia, as minhas palavras são para ti…
Nasceste num país em que a tua mãe não necessitou de autorização do teu avô para casar com o teu pai. A tua mãe pôde escolher o que curso que quis tirar na faculdade pois todos lhe eram permitidos. Nasceste num país em que a tua mãe pôde sair de casa dos teus avós para a sua própria casa, comprada enquanto mulher solteira e trabalhadora, e não somente para casar. Nasceste num país em que a tua mãe tem direito a votar e que pode ambicionar a ter a mesma profissão que qualquer homem. Nasceste num país em que os teus avós deixaram a tua mãe voar no rumo que ela quis, mesmo que isso significasse trabalhar no meio de homens. Mas, meu filho…
Também nasceste num país em que as desigualdades salariais são uma realidade. Um país em que, apesar de em 2021 as médicas, magistradas a advogadas serem mais que os médicos, magistrados e advogados… Ainda existe um longo caminho a ser feito. Nasceste num país em que a discriminação no local de trabalho, seja ela positiva ou negativa, existe apenas por se ser mulher. Nasceste num país em que o sucesso de uma mulher ainda é encarado como mais ou menos subtilmente associado a conotação sexual e em que a violência doméstica é um caso grave para muitas mulheres. Nasceste num país em que os jovens encaram a violência no namoro como algo “normal”. Nasceste num país em que, para se ser mãe, se tem de abdicar de uma carreira e em que ainda existe um longo caminho para ser feito no domínio da conciliação entre o trabalho e a família. Nasceste num país em que ainda existem pais que educam os seus filhos no preconceito de “isto é para menina” e “menino não chora porque senão é maricas”. Sim, meu filho… Nasceste neste país mas ouve o que a mãe te diz…
Enquanto mãe de rapaz, sinto que tenho uma responsabilidade muito maior do que sendo mãe de rapariga. A ti, devo todos os dias ensinar que um “não” é um “não” em vez de “ela está só a fazer-se de difícil”. A ti, devo mostrar que os filmes e os livros não têm género e que não existe mal nenhum em veres a Frozen ou conhecer as histórias de adormecer para raparigas rebeldes. A ti, devo demonstrar que não deves discriminar uma mulher positivamente no local de trabalho, dando-lhe determinado lugar apenas por ter nascido mulher em vez de se valorizar as suas capacidades profissionais. Mas também não a deves discriminar negativamente por ser mulher, mãe e profissional e ter escolhido esse caminho. A ti, devo demonstrar que não existe um homem que ajuda em casa, mas sim um casal, uma equipa, que partilha o mesmo espaço e que tem iguais responsabilidades. Seja a cuidar dos filhos ou da casa. A ti, devo demonstrar que não existem trabalhos para homens e trabalhos para mulheres e que existem mulheres que conduzem muito melhor que muitos homens. A ti, devo dar todas as ferramentas e experiências para perceberes o que é a igualdade de género, a justiça e o respeito. E, acima de tudo, devo explicar que a violência é errada, condenável… E que nunca deverás levantar a mão para um mulher.
Está nas minhas mãos educar-te no caminho necessário a que as mulheres se tornem visíveis numa sociedade em que existe um défice informacional de género. Como se pode ler no livro “Mulheres invisíveis”, de Caroline Criado Perez, há que criar o espaço necessário a que as mulheres saiam da sombra em todas as áreas. E eu sei que, enquanto mãe, tenho nas minhas mãos o poder de, ainda que numa muito pequena dimensão, poder contribuir para mudar o mundo através de ti, meu filho… Um futuro homem da sociedade portuguesa que, um dia, saberá respeitar os limites das mulheres com quem se relaciona e que verá nelas um ser humano igual nas suas diferenças biológicas, capaz das mesmas coisas e companheiras de uma equipa. A ti, devo isto enquanto mãe. E devo isto a todas as mulheres que lutam, todos os dias, para que a nossa voz seja ouvida em todo o mundo. A todas as mulheres que, todos os dias, se superam e criam algo de novo para o mundo. A todas as mulheres que, em silêncio, apanham e sofrem em silêncio, com medo que o seu agressor lhe retire aquilo que de mais precioso tem. A todas as mulheres que ainda estão para nascer e que necessitarão de ti, ser humano com capacidade e poder de decisão, para fazer ouvir a sua voz!
Feliz Dia da Mulher!
Margarida
Adorei o teu texto. Sem dúvida que está nas nossas mãos educar as gerações seguintes e só assim veremos mudanças. 💙
SandraCC
Tão essencial enquanto pais e educadores pensarmos no importante papel que temos na construção das próximas gerações 🙂 Um beijinho
Ray Cunha
Olá,
Seu texto está impecável. A importância de ensinar as próximas gerações começa aí. Que tantos outros filhos cresçam com essa visão do mundo, de igualdade, e que tenhamos todos um futuro mais justo.
Beijo!
http://www.amorpelaspaginas.com
SandraCC
Muito obrigada 🙂 este é mesmo um dos meus principais objectivos com este meu projecto: incentivar a que as crianças e os adultos leiam mais e que gostem disso!