Janeiro, Nuno Nepomuceno e Afonso Catalão… O que têm em comum?! Os fãs de policiais e thrillers sabem a resposta… Nos últimos anos, Janeiro tem-nos trazido novas aventuras de Afonso Catalão nascidas na mente de Nuno Nepomuceno… E Janeiro de 2021 não é excepção com a chegada às livrarias de “O Cardeal”. Em Dezembro, mostrei-te a fantástica capa deste novo livro e a opinião sobre “A Morte do Papa”, o quarto livro da série de Afonso Catalão. Como uma das paragens da Book Tour de “O Cardeal” da Cultura Editora, hoje partilho a minha opinião sobre o livro. Vamos a isso?
“O Cardeal”: Cambridge e Vaticano ligados por poinsétias
Depois de conhecer Adam Emanuel em “A Morte do Papa”, Afonso Catalão volta a cruzar-se com este escritor algo snob e obstinado. Mas, desta vez, não se trata do lançamento de mais um grande sucesso de vendas… A sua tia, Laura Emanuel, é encontrada morta e desmembrada nas margens do rio Cam, num crime atroz capaz de ter saído da mente do pior criminoso do século! Terá um escritor premiado com o Man Booker Prize sido capaz disto?! Tudo indica que sim… A 2292 km, o novo Papa é assassinado… Mais uma vez! Parece que não existe descanso no Vaticano e a cadeira de Pedro não consegue ser ocupada durante muito tempo… Terá sido o assassinado autointitulado “O Cardeal” o responsável por tudo isto?! De uma forma completamente envolvente, Nuno Nepomuceno tem a capacidade de se inspirar em crimes verídicos e transportá-los para a sua escrita de forma inigualável. Para quem gosta de documentários de true crime, conseguirá encontrar nesta narrativa os ingredientes típicos de qualquer história contada nos canais Investigation Discovery ou Crime Investigation.
Gosto da forma algo bem humorada como o Nuno consegue incorporar, nos seus livros, outras histórias que já publicou. Podes ver isso, logo no início do livro, quando fala de um dos grandes sucessos de Adam Emanuel, “A Morte do Papa”. Onde é que eu já vi este título?! E, claro… O desenho psicológico das personagens que vão ganhando densidade a cada novo capítulo, mostra uma capacidade criativa e narrativa de Nuno Nepomuceno que nos prende desde a primeira página. O drama da família Emanuel, viver na sombra de um nome famoso e os efeitos que isso pode ter na personalidade e nas opções de alguém mostra como é possível construir um intenso thriller psicológico a que não se consegue ficar indiferente. E isso encontramos neste livro com a relação quase de devoção incestuosa ente Lizzie e o seu irmão Adam. Mas este drama familiar vai muito mais além disso… E Catalão será o primeiro a colocar essa hipótese em cima da mesa, como se lê na pág. 269:
Havia uma relação entre a morte de John, a presença do Cardeal em Cambridge e os dois crimes dos quais Adam fora acusado. E a reacção intempestiva de Adam era a prova disso mesmo, sobretudo porque ocorrera assim que Afonso mencionara o nome do assassino e o encontro fortuito entre ambos na Praça de São Pedro. Existia uma ligação entre os dois homens.
E não só estão estes dois homens ligados… Existe algo que une o Papa assassinado, o cardeal Stefano Uggeri e Adam e Lizzie Emanuel… Um novelo de relações que Nuno Nepomuceno soube habilmente construir.
Quando leio livros de uma série, gosto sempre de ir encontrando referências de livros anteriores. E consegui ter isso em “O Cardeal”. Sendo a continuação de “A Morte do Papa”, neste livro recuperam-se algumas das personagens que não foram tão desenvolvidas anteriormente. Por exemplo, entra novamente em cena o cantor do coro do Vaticano, Massimo, o padre desordenado por acusação de homossexualidade dentro das paredes do Vaticano e que se tornou um engenheiro de sistemas cheio de informação que Catalão vai querer descobrir. E Catalão enfrenta, novamente, os seus próprios fantasmas… Cambridge é sinónimo, em simultâneo, de felicidade e de um enorme sentimento de perda e de culpa. Assim, ao longo dos cinco livros, vamos conhecendo as forças e fraquezas de um homem que é muito mais do que um mero professor universitário. É através dele que ganhamos a consciência do poder que a religião continua a ter na sociedade actual. Será sempre um pilar que alimentará paixões e ódios, segredos por desvendar e jogos de poder nos bastidores. E sobre o qual importa refletir…
As poinsétias, também conhecidas por cardeais, são o fio condutor nos diversos crimes. Esta pequena flor vermelha e delicada é a testemunha dos acontecimentos mais horrendos. Mas cardeal é também mais do que isso! É assassino, sacerdote, amante. E é o elemento despoletador de recordações em Afonso Catalão. Como se lê na pág. 255:
Afonso ampliou as fotografias que a comunicação social publicara e conseguiu perceber que flores eram aquelas. a sua intuição estava correcta. Eram popularmente conhecidas como estrelas-de-natal, mas também se chamavam cardeais. E, simultaneamente, algo distante no seu passado, a recordação de um encontro com um assassino profissional cujo cognome era O cardeal veio-lhe à memória.
E já no final do livro, existe ainda tempo para visitar as margens do Lago Como. Volta assim à história Sofia, uma das personagens principais do livro “A Última Ceia”. Antiga aluna de Catalão, viúva de um poderoso vendedor de arte com ligações pouco legais… Com um companheiro de nome James que é muito mais do que é visível aos olhos. Uma personagem que vejo como uma viúva da Máfia e que se liga agora a um hábil assassino profissional… Que mistura explosiva é esta que nos surge no final deste livro?! Teremos aqui um leve desvendar do que poderá ser um próximo livro de Nuno Nepomuceno?!
“O Cardeal”: O resumo da minha opinião
O que mais gostei neste livro?
- A densidade psicológica das personagens (Adam, Lizzie e Catalão) e de entregar o lugar de destaque de crimes horrendos a quem menos se esperaria.
- A possibilidade de revisitar e de conhecer melhor personagens de livros anteriores e que são essenciais para compreender a narrativa actual.
- A capa extraordinária e muito bem conseguida que consegue ter intensidade e, ao mesmo tempo, transmitir a solidão, os fantasmas e os dilemas interiores que pode habitar em cada um de nós.
- O risco de fazer algo diferente. Nuno Nepomuceno arriscou um pouco neste livro trazendo algo de diferente dos livros anteriores de Afonso Catalão e isso poderia ser um risco para a narrativa e desenvolvimento da história mas… Antes pelo contrário! Vale a pena arriscar e trazer algo de novo!
- O tamanho de letra da edição torna a leitura bastante fácil e não cansa durante a leitura, o que poderia acontecer caso fosse um tamanho de letra mais pequeno.
O que menos gostei neste livro?
- Não tenho nada de negativo a apontar… O Nuno está mesmo de parabéns com este novo livro!
Detalhes do livro:
Título: O Cardeal
Autor: Nuno Nepomuceno
Editora e data de publicação: Cultura Editora, Janeiro de 2021
Encadernação: capa mole
Páginas: 416
Classificação temática: Literatura – Policial e Thriller
Classificação Goodreads: 4,64
Para além de “O Cardeal”
Se nunca leste nenhum livro do Nuno Nepomuceno e ficaste com curiosidade, não deixes de ler os outros livros desta série absolutamente fantástica!
A Célula Adormecida, classificação Goodreads – 4,27
Pecados Santos, classificação Goodreads – 4,49
A Última Ceia, classificação Goodreads – 4,00
A Morte do Papa – classificação Goodreads – 4,23
O Cardeal, classificação Goodreads – 4,64