Erros comuns em revisão científica: O que precisas de saber?

No último artigo de book blogging do blog, ficaste a conhecer o que é a revisão científica e a sua importância. Hoje, é tempo de conhecer os erros comuns em revisão científica e a sua relevância nos livros para crianças. Novamente, conto com a colaboração da Helena Santos, autora do projecto A revisora científica. Para relembrar, a revisão científica pretende verificar factos que estão em livros através de fontes fidedignas e actuais. Apenas assim se consegue garantir que os livros que as crianças estão a ler têm a informação correcta do ponto de vista científico. E quando isso não acontece?!

Tal como em qualquer área, podem encontrar-se erros comuns em revisão científica os quais deves dar a tua atenção. A Helena vai explicar-te tudo o que precisas de saber. Primeiro, tens de ter em conta o seguinte, como a própria Helena explica:

A revisão científica e uma correcta adaptação dos conceitos científicos para a Língua Portuguesa é essencial para garantir ao leitor, crianças ou adultos, informação cientificamente correcta, actualizada e relevante na sua língua materna. Deste modo, deveria ser obrigação das editoras, estrangeiras e nacionais, certificarem-se de que as suas publicações contribuem para uma efectiva e correcta aprendizagem dos seus leitores.

Vamos então compreender melhor estes erros comuns e melhorar a aprendizagem de todos?

 

Erros comuns em revisão científica: O que acontece com os manuais escolares?

Os manuais escolares são sujeitos a revisão científica, de modo a que a informação veiculada seja correcta e actualizada. Esta revisão é realizada por especialistas das diferentes áreas do conhecimento, como por exemplo, docentes universitários ou investigadores. E todos os outros livros para crianças e jovens que abordam temas sobre animais, plantas, dinossauros, a Terra, o Espaço ou o corpo humano? Todos possuem conceitos científicos que ensinam os mais novos. Então o que os torna diferentes dos manuais escolares, no que à revisão diz respeito?

A ciência está em constante evolução e existe muita informação de carácter científico que é transmitida na literatura infantil e juvenil e que está incorrecta, incompleta e desactualizada. Neste tipo de publicações, muitas vezes, o conhecimento empírico do autor, a informação já publicada noutros livros semelhantes e a informação disponível online é dada como factual e correcta, quando, frequentemente, tal não acontece.

 

Erros comuns em revisão científica: Problema nacional ou internacional?

Muitas das publicações originais infantojuvenis de editoras estrangeiras não são sujeitas a revisão científica, sendo publicadas com informação científica errada. Estas incongruências são, frequentemente, transferidas na adaptação para a Língua Portuguesa, já que muitos tradutores não têm a formação especializada para detectar ou corrigir informação de natureza científica. Do mesmo modo, existem conceitos científicos que, quando traduzidos de forma literal, perdem a contextualização e outros que não têm tradução directa para português. No entanto, embora mais escassos, existem livros de autores portugueses publicados com informações científicas incorrectas!

Uma explicação para este facto, poderá ser a data da publicação pois, se esta não for recente, as informações científicas poderão ficar desactualizadas. No entanto, mesmo em publicações actuais surgem afirmações sem qualquer fundamento científico. Talvez seja mais perceptível ao apresentar alguns exemplos que encontrei nestas publicações:

  • Bugs = insectos:

O termo inglês bugs incorpora muitos seres vivos invertebrados para além dos insectos, como aracnídeos (p. ex. aranhas), anelídeos (p. ex. minhocas) e moluscos terrestres (p. ex. caracol). Como não existe tradução para a Língua Portuguesa deste termo, ele é muitas vezes traduzido erradamente para “insectos”, fazendo com que nos títulos e nos capítulos desses livros, sejam erradamente identificados como insectos, muitos outros animais.

  • “Todas as aranhas são carnívoras”

Existem inúmeras espécies de aranhas e, embora muitas sejam predadoras, há espécies com diferentes hábitos alimentares, como herbívoras ou detritívoras.

  • “A pele do tubarão não tem escamas”

A pele dos tubarões, que são peixes cartilagíneos (possuem um esqueleto formado por cartilagem), está coberta por escamas placoides.

  • “As baleias não dormem”

Dormem sim, pois o sono é fundamental em todos os animais. Nos mamíferos marinhos, os hemisférios cerebrais dormem alternadamente, permitindo-lhes descansar sem comprometer o estado de vigilância, a manutenção da respiração ou mesmo da temperatura corporal que, normalmente, diminui durante o sono.

  • “Ao tocar em algo muito frio ou muito quente, a pele alerta o cérebro e este comanda para retirar a mão”

A maior parte dos actos reflexos têm a sua origem na medula espinal, sem intervenção do cérebro. Isto permite que a resposta (retirar a mão) a um estímulo (objecto quente) seja imediata, garantindo a sobrevivência. É uma resposta automática, sem pensamento consciente, na seguinte sequência de neurónios: sensorial (pele, olho, etc.) – associação (medula espinal) – motor (mão, perna, etc.). Claro que o neurónio de associação envia, por outra via, impulsos para o cérebro que “aprende” com o reflexo.

Há, igualmente, a tendência para simplificar o conhecimento científico.

  • “As avestruzes não bebem”

As avestruzes bebem, mas podem passar muito tempo sem ingerir água, obtendo-a dos alimentos que consomem – maioritariamente plantas, sementes e frutos.

  • “Os camelos não transpiram”

Os camelos raramente transpiram, mas não é correcto dizer que não transpiram de todo. Transpiram pouco frequentemente para evitar perdas de água.

  • “Os nossos olhos apenas conseguem ver 3 cores”

O olho possui três tipos de células cone no olho, cada uma processa comprimentos de onda de luz diferentes (de uma forma simplificada referidos por vermelho, verde e azul). Estas células, em conjunto, permitem-nos ver milhões de cores e milhares de tons.

Também ocorrem ilustrações erradas, onde são utilizadas imagens de espécies diferentes das mencionadas no texto da publicação ou ilustrações com características falsas de modo a tornar o desenho mais apelativo.

De notar que há uma tendência de certas edições estrangeiras para simplificar os termos científicos. Mas, nas edições portuguesas, devemos evitar fazê-lo, pois muitos dos termos são correctamente ensinados na escola e não temos de ter receio de os utilizar por acharmos que são demasiado “complexos”. Lembrem-se que há muitos outros termos que usamos diariamente que, antes de serem ensinados, também pareciam complicados. Não devemos forçar a simplificação de termos científicos só porque pensamos que são difíceis de aprender, pois isso é uma forma de menosprezar o conhecimento e a capacidade de aprendizagem. Também não devemos perpetuar informação científica incorrecta, só porque é mais atractiva do que a realidade, nem inventar nomes para espécies só porque o nome científico é “complicado”.

Não apenas os cientistas, mas todos nós temos o direito de saber como funciona o nosso mundo: que as aranhas não são insetos, que as avestruzes não enfiam a cabeça na areia, que nem todos os morcegos são vampiros e muitos outros conhecimentos! Devemos utilizar os termos corretos, como encéfalo, probóscide, eritrócito, espirotromba, hemolinfa, em vez de evitar fazê-lo porque “parecem complicados”!

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Muito obrigada, Helena, por estes dois artigos cheios de informação muito importante. E votos do maior sucesso para o teu projecto A revisora científica!

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