“A morte explicada aos mais novos”: Como surgiu este livro?

O pior acontecimento que qualquer família pode passar é a perda de um ente querido. “A morte explicada aos mais novos” (link na Bertrand), do Dr. Manuel Mendes Silva, editado pela BOOKSMILE, traz-nos uma visão sobre esse acontecimento mais triste. É um tema sensível, que não sabemos bem como abordar e é aquele que nem queremos pensar. Mas é importante saber o que dizer. Como se pode ler na sinopse no site da Bertrand, “é importante abordar o assunto de uma forma clara e acessível, com verdade e honestidade“. E é nesta tarefa difícil que “A morte explicada aos mais novos” pretende ajudar!

Quando este livro me chegou às mãos, não pude deixar de ter curiosidade em compreender como surgiu a ideia de o escrever. Escrever sobre temas difíceis, ter presente o que se pode fazer para ajudar famílias, professores e educadores, é importante. Ter autores que se preocupem com isso e editoras que acolham bem esses projectos é essencial para ajudar no desenvolvimento das crianças. Por esse motivo, quis conhecer um pouco melhor o autor e perceber como nasceu o livro “A morte explicada aos mais novos”. Desafiei o Dr. Manuel Mendes Silva para uma entrevista e aqui fica o resultado. Acompanham-me?

 

Antes de falarmos do seu livro, pode falar-nos um pouco de quem é Manuel Mendes Silva e de como surgiu a ideia de escrever o livro “A morte explicada aos mais novos”?

Sou Manuel Mendes Silva, de 72 anos, médico, casado há quase 50 anos, pai de 3 filhos, avô de 9 netos.

Sou (ou fui):

Chefe de Serviço Hospitalar de Urologia aposentado. Fellow do European Board of Urology. Académico Honorário Estrangeiro da Academia Nacional de Medicina do Brasil.  Co-fundador do Serviço de Urologia do Hospital Militar Principal em Lisboa. Ex-presidente da Associação Portuguesa de Urologia, da Associação Lusófona de Urologia e do Colégio de Urologia da Ordem dos Médicos e ex-vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia. Vice-presidente da Associação Portuguesa de Formação Médica Contínua. Presidente do Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médica e ex-presidente do Conselho Disciplinar Sul da Ordem dos Médicos. Presidente da Comissão de Ética da Associação Portuguesa de Urologia. Ex-Diretor da Oficina de Ética da Confederación Americana de Urologia. Presidente da Secção de História da Medicina da Sociedade de Geografia de Lisboa. Autor de mais de uma dúzia de livros, técnicos, de arte fotográfica, para idosos e para crianças.

Há uma dúzia de anos, o meu neto mais velho, na altura com 6 anos, na programação das nossas visitas periódicas, pediu-me para o levar a um cemitério. Senti a importância de lhe explicar esse assunto difícil que é a morte, e de o resolver comigo mesmo antes de lho ensinar. Com o tempo fui levando os outros netos ao cemitério, como também os levava aos museus, aos parques, aos espectáculos, ou a andar a cavalo. Senti o apelo de estender às outras crianças estas explicações e propus à editora Booksmile um livro sobre este tema difícil, na sequência do meu anterior livro “A sexualidade explicada aos mais novos”, sobre outro assunto embaraçoso.

 

Qual ou quais foram os maiores desafios que teve enquanto escrevia este livro?

Os maiores desafios que senti foram a adaptação da linguagem e da descrição das situações e dos conceitos à mentalidade e à sensibilidade das crianças, sempre com verdade, delicadeza e até ternura. Para ultrapassar esses desafios contei com “a criança que há em mim”, com os meus netos, e com a experiência da editora.

 

No seu livro, surge a referência aos seus nove netos e à ajuda preciosa que lhe deram na escrita. Como eles encararam ajudar o avô em escrever um livro para ajudar a explicar a morte aos mais novos?

Para além das ajudas atrás referidas, os meus netos ajudaram-me muito através das respostas a um pequeno questionário de cinco ou seis perguntas que lhes fiz, a todos e a cada um individualmente, conforme as idades, na altura dos 6 aos 16 anos. Os testemunhos das crianças que constam do livro são deles, com os respectivos nomes, embora com pequenas adaptações. Por exemplo a frase do Simão, o mais velho de 16 anos, foi dita por ele quando tinha 6 anos. Por fim, na leitura que fizeram do texto final, ajudaram-me a substituir algumas palavras e a compor algumas frases para ficarem mais adaptadas aos “mais novos”. Eles ficaram muito orgulhosos por terem colaborado e por estarem citados, com os seus nomes, no livro.

 

Achei muito interessante incluir, no seu livro, a visão de diferentes religiões sobre a morte e como ela é encarada pelos seus praticantes. Encontrou um fio condutor entre todas elas? As pessoas com quem falou contaram-lhe experiências sobre como explicam a morte aos mais novos em cada uma dessas religiões?

Achei que no texto da história não deveria haver referências e soluções religiosas explícitas mas apenas dúvidas a que as diferentes religiões darão resposta. Por isso convidei representantes acreditados das religiões mais comuns em Portugal e também do agnosticismo/panteísmo e do ateísmo para fazerem pequenos textos escritos em linguagem simples que explicassem a resposta de cada uma às grandes questões levantadas pela morte, quer em atitudes relativas aos cadáveres, quer em relação ao destino da alma ou do espírito, se nisso acreditarem. Creio que em todas as atitudes religiosas, agnósticas ou ateias há uma preocupação de bem, de bondade e também de perpetuidade, espiritual ou de memórias e obras. As experiências religiosas perpassam em cada um dos testemunhos muito adaptados aos jovens.

 

O seu livro tem também o testemunho de vários especialistas médicos. Qual acha que deve ser o papel dos profissionais de saúde nestas situações?

Para além duma explicação médica da morte e da colheita de órgãos para transplantação feita por mim próprio, quis “ouvir” testemunhos duma professora de pediatria relativamente à abordagem do tema com as crianças e jovens, bem como duma pediatra do desenvolvimento, que me ajudou também a fazer as recomendações aos pais e familiares de crianças a quem morre um ente querido, segundo a sua faixa etária. Pedi igualmente a uma psicóloga infantil e a uma pedopsiquiatra que dessem alguns conselhos e recomendações aos jovens e aos seus pais, educadores e familiares. Finalmente, pedi a uma especialista em oncologia pediátrica/cuidados paliativos pediátricos que desse o seu testemunho nas situações em que os mais novos têm de encarar a sua própria morte ou de irmãos e primos, colegas e amigos. Os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, psicólogos, auxiliares e outros podem ser muito importantes ao educar e ajudar pais e educadores e também ao lidar com problemas que possam afectar as crianças e jovens aquando da morte de entes queridos, ou quando elas estão gravemente doentes.

 

Na sua opinião, e para quem ainda não leu o livro, qual a pior atitude que pais, cuidadores e professores podem ter com as crianças quando morre algum familiar?

Não serem verdadeiros, e não adaptarem a verdade à idade, desenvolvimento e características de cada criança ou jovem. Há que explicar o que é explicável, da forma que melhor se adequa ao desenvolvimento, conhecimentos, sensibilidade e individualidade de cada criança, e consolar o que é consolável, com amor, carinho e ternura. Alguns costumes e “frases feitas” habituais podem ser perniciosas, como é exemplificado e explicado no livro.

 

Para finalizar, qual a sua grande mensagem para pais, cuidadores e professores nesta fase tão complicada que vivemos. Como explicar aos mais novos o quanto é fundamental proteger-nos individualmente para nos protegermos a todos?

A vida é um dom, que começa e tem de acabar. É muito bonito quando as pessoas aproveitam o dom da vida, quando têm alegria, são boas e praticam o bem. A morte é um mistério. O corpo morre, os órgãos deixam de funcionar, mas não sabemos o que está para além da morte, onde “existimos” antes de nascer e depois de morrer. As religiões ajudam a cada um de nós solucionar este mistério e a dar-nos esperança de luz eterna. Sendo o viver e o morrer estados naturais, os adultos têm de saber encará-los como tal. Têm de saber aproveitar a vida e combater, com todos os meios e apoios possíveis, a doença e o sofrimento. Mas quando é iminente e inevitável, temos de saber lidar com a morte e aceitá-la. É fundamental resolver esta questão connosco próprios para explicar a morte aos mais novos.

 

Muito obrigada, Dr. Manuel Mendes Silva, por ter aceite o convite para esta entrevista. Acho que irá ser muito positivo para todos compreenderem melhor como surgiu o livro “A morte explicada aos mais novos”.

 

Sobre “A morte explicada aos mais novos”Editora BOOKSMILE | Autor: Dr. Manuel Mendes Silva, Ilustrações: Carolina Antunes e Silva | Idioma: Português | Encadernação: capa dura | Classificação temática: Livro infantil; contos, fábulas e narrativas; Infantil (6 a 10 anos)

 

Outros livros do autor:

“A sexualidade explicada aos mais novos”, Editora BOOKSMILE (livro infantil, 6 a 10 anos)

 

Estes livros do autor fazem parte da colecção Educação para a Saúde, da BOOKSMILE, que pode ser uma boa sugestão para assinalar o Dia Mundial da Saúde hoje, dia 7 de Abril. Fica a sugestão!

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