“O duende que caiu da lua”: o mundo de Katan e Tomás
Imaginem que, um dia, estavam a dormir no vosso quarto e um duende que caiu da lua vos batia à janela? Acreditavam nisto? Pois, o Tomás, personagem do livro “O duende que caiu da Lua”, também não queria acreditar nisto… Teve de se beliscar e tudo para crer que Katan estava mesmo ali, debaixo da sua janela, e a precisar da sua ajuda!! E este é o início da história nascida da imaginação mágica de Rita Mira, apaixonada pela ilustração e escrita para os mais novos, lançada em 2019 pela Editora Fábula (chancela da 20|20 Editora).
Quando lemos um livro, fica sempre um espaço um pouco vazio… Aquele espaço que seria preenchido por compreendermos um pouco melhor como nasceu a história que acabámos de ler. Um espaço preenchido por conhecer um pouco melhor o autor que dedicou o seu tempo a escrever as palavras com que abrimos o mundo mágico dos sonhos e da hora de dormir aos nossos filhos. A pensar nisso, desafiei a Rita Mira, autora do livro “O duende que caiu da Lua”, a partilhar um pouco de si e dos detalhes que a levaram a criar Tomás e Katan. Vamos conhecê-los?
Antes de falarmos do seu livro, pode contar-nos um pouco sobre quem é a Rita Mira e como surgiu a sua ideia de escrever “O duende que caiu da lua”?
Tenho 44 anos, 2 filhas e um gato! Apesar de ter feito toda a minha carreira profissional na área de marketing e publicidade – onde ainda permaneço – o gosto pela leitura e pela escrita surgiu mais tarde. Tinha, desde então, o sonho de poder ter um livro publicado e foi este sonho que me fez manter o foco e passar das intenções à acção.
Uma noite, daquelas de lua cheia, estava à janela da sala a contemplar a sua beleza e o seu brilho e uma pergunta surgiu na minha cabeça “O que dá luz à lua?”. De imediato fiquei curiosa com a minha própria pergunta e a minha mente começou a pensar em diferentes respostas. Pareceu-me, então, que podia dar uma boa ideia para um texto infantil explorar este tema.
Qual foi a sua inspiração para criar as personagens do Tomás e do Katan?
A primeira personagem que criei foi o Katan – o duende. Quando começei a pensar que na Lua podiam haver habitantes, tive várias ideias diferentes dos seres que podiam lá estar – desde extraterrestres a seres humanos como nós. No entanto, queria que este “habitante da lua” fosse um misto entre o fantástico e o humano, que fosse carinhoso, expressivo e tivesse sentimentos. Rapidamente me surgiu a ideia de ser um duende. Já o Tomás, surgiu como o contraponto do Katan. Um menino normal, que vive uma vida normal, que tem as rotinas normais de qualquer criança e que, de repente, se vê confrontado com uma situação peculiar do lado de fora do seu quarto.
Gostei muito da descrição do quarto do Tomás. É um “quarto azul estrelado” que seria o sonho de qualquer criança. Será a descrição e a ilustração deste quarto um incentivo dos mais novos a interessarem-se pelas ciências e pelo conhecimento do universo?
Quando começei a desenvolver a personagem do Tomás fez-me todo o sentido ele ser um apaixonado pelo espaço, até porque ele iria ter um feliz encontro com uma “criatura” diferente vinda de lá. A criação do ambiente do quarto do Tomás foi, para mim, uma consequência lógica desta paixão, uma vez que as crianças gostam de estar rodeadas das suas coisas preferidas. À medida que fui desenvolvendo o texto, apercebi-me que podia trazer informação relevante para o pequeno leitor sobre o tema do espaço e decidi explorar este tema, partilhando conteúdos de forma subtil e tentando fazer com que o seu interesse pelo tema fosse maior.
O Katan é um duende da lua a quem os amigos chamam desajeitado. Como o próprio Tomás lhe diz na história, foi por causa de ser desajeitado que caiu na Terra. No entanto, Katan não deixa de acreditar que vai ser possível regressar a casa e não falhar com o seu compromisso tão importante de ser duende da lua. Com isto, queria passar a mensagem a todas as crianças para que acreditem sempre que é possível conseguirem o que sonham?
Quando contamos uma história é, por vezes, difícil, fazer passar uma mensagem sem a dizer de forma literal. Muitas vezes temos de nos socorrer de situações, conflitos, acções para demonstrar o que queremos dizer e a nossa mensagem ser apreendida de forma muito natural. O Katan é um duende com um enorme sentido de responsabilidade e ele sabia que estava em falta com a Lua e o seu trabalho, se continuasse a viver na Terra. Por isso, acreditar que seria possível resolver a situação era a única hipótese e agir, para conseguir concretizar o seu objectivo de regressar.
Achei muito curioso ter um mini-capítulo dedicado a falar das saudades. É aquele sentimento um pouco português e difícil de explicar em outras línguas. Acha importa explicarmos às crianças o que é saudade e ajudá-las a compreender esse sentimento e as emoções associadas a ter saudades, como a tristeza?
A saudade é um sentimento mágico e muito intenso mas muito difícil de verbalizar. E foi um desafio que me coloquei ao tentar explicar, numa forma simples e que as crianças pudessem entender, o que significa. Acho mesmo que foi a parte do texto que re-escrevi mais vezes, pois achava sempre que não estava exactamente como pretendia. É muito importante que as crianças percebam e vivam todo o tipo de sentimentos: saudade, amor, tristeza, raiva, alegria, conquista, perda… E que sejam capazes de falar sobre eles todos e não apenas nos positivos e que nos fazem bem. Estes sentimentos fazem-nos crescer e moldam a nossa personalidade.
A história de “O duende que caiu na lua” termina com o sinal da amizade entre o Tomás e o Katan e o sentimento de “um amigo para a vida toda”. Qual a principal mensagem que queria transmitir aos mais novos com esta parte da história?
Há um ditado antigo que diz “Longe da vista, longe do coração” e eu não podia discordar mais com ele. A distância não deve, nem pode, ser um impeditivo à amizade, ao amor, à partilha, à presença. Fico feliz se apenas uma criança que leia este livro sinta saudade e vontade de falar com alguém que já não vê há algum tempo. Que perceba que, apesar da distância, as pessoas importantes estarão sempre lá. E hoje é dia é tão fácil mantermos o contacto – nem que para isso seja necessário usar a imaginação, como fez o Katan ao criar o “sinal da amizade”.
Para finalizar, qual a sua grande mensagem para pais, cuidadores e professores que possam contar a história de “O duende que caiu da lua” aos mais novos? Como gostaria que eles contassem esta história às crianças?
Este livro tem várias mensagens que vão sendo passadas: o aceitar o desconhecido e o diferente de mente aberta, o ser perseverante para alcançar os sonhos e objectivos, a importância da promessa e da confiança no outro, o ser autónomo na resolução de problemas, a importância de compreender alguns dos nossos sentimentos, o poder da amizade. No final, gostava que quem lesse o livro sentisse um sorriso na alma. Que olhassem para a lua e a vissem de outra forma e que acreditassem, mesmo, que os duendes existem por lá! 😊
Como sugestão de leitura, proponho que à medida que vão contado a história, vão fazendo perguntas, como:
- Consegues dizer-me algumas diferenças físicas entre duende e um menino como nós?
- O Tomás queria muito ser astronauta. E tu? Qual o teu sonho?
- Qual a importância de uma promessa que fizeram a um amigo?
- Acham que a 1ª solução da lista do Tomás funcionou? Porquê?
- E a 2ª? Parece ser uma ideia tão boa.
- Se fosses o Tomás, qual a 3ª solução que podias ter para enviar o Katan de volta para a lua? Basta usares a tua imaginação.
- Tens saudades de alguém? Ou de alguma coisa?
- Achas que o Katan devia ficar a viver na casa do Tomás? E o Tomás ir viver com o duende para a Lua?
O importante é que tenham um momento de diversão e interacção.
Boas leituras!
Muito obrigada, Rita, por ter aceite o convite para esta entrevista. Tenho a certeza de que “O duende que caiu da Lua” irá ganhar ainda mais fãs junto de miúdos e graúdos!
Sobre “O duende que caiu da Lua”: Editora Fábula | Autora: Rita Mira, Ilustrações: Carla Nazareth | Idioma: Português | Encadernação: capa dura |! Classificação temática: Livro infantil; contos, fábulas e narrativas; Infantil (6 a 10 anos)
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