Emoções: O calcanhar de Aquiles das crianças… E de muitos adultos!

Emoções. Como é que sete letras podem condensar tanta coisa e deixar-nos tão perdidos em determinados momentos… Diz-nos a definição de emoção que ela traduz a nossa reacção a um “estímulo ambiental que produz tanto experiências subjectivas, quanto alterações neurobiológicas significativas“, associando-se ao “temperamento, personalidade e motivação” (a partir de Emoção na Wikipédia). Do ponto de vista da Psicologia, existem muitas teorias para descrever as emoções. Medo, tristeza, alegria, melancolia, empatia… Uma imensidão de palavras podem ser utilizadas para descrever o nosso estado de espírito. Por aqui, já partilhei algumas sugestões de leitura sobre emoções.
Se nós, enquanto adultos, já temos tantas vezes dificuldades em conseguir expressar o que sentimos… Imaginem as crianças de mais tenra idade… Num estudo que li sobre este tema, diz-se que “a capacidade de regulação das emoções apresenta-se como um objectivo absolutamente fundamental no desenvolvimento sócio emocional das crianças“, sendo que esta capacidade vai depender da “qualidade da vinculação, desempenho cognitivo e escolar” (podem ver o estudo completo, da autoria de Hugo Pinto, Ana Carvalho e Eduardo Sá, neste link). A auto-regulação das crianças, no que às emoções diz respeito, leva o seu tempo a ser desenvolvida e não significa que isso aconteça, na sua totalidade, antes da entrada no ensino primário. É, por isso, importante que os adultos consigam desenvolver estratégias que ajudem as suas crianças a desenvolverem a capacidade de compreenderem as suas emoções e de falar sobre elas, sem receios nem vergonhas.
Um exemplo de uma destas estratégias é a utilização da literatura infantil para auxiliar as crianças na regulação das suas emoções. Um livro infantil pode ser de grande utilidade por poder ser um “elemento promotor do desenvolvimento emocional uma vez que as histórias permitem o desenvolvimento de capacidades literácitas e emocionais“, como nos escreve Renata Botelho no seu trabalho sobre este tema (podem aceder ao trabalho completo neste link). A criação, por exemplo, da hora do conto (seja em casa ou em contexto escolar) pode ajudar as crianças a desenvolverem a sua imaginação e articular os seus mecanismos emocionais. A pensar nisto, hoje escrevo-vos sobre três livros que podem usar com as vossas crianças para falar de emoções. Vamos conhecê-los?
Emoções: vamos aprender com o Emocionário?
Um dos livros sobre emoções que mais recentemente veio cá para casa foi o Emocionário. Este livro, adequado à faixa etária juvenil, funciona como um dicionário de emoções. Conforme podemos ler na sinopse do livro em Wook.pt:
As asas dos pássaros têm penas. As asas das pessoas têm palavras. Mas nem todas as palavras te ajudam a elevares-te. Só as palavras que expressam claramente como te sentes aumentam as tuas possibilidades de voar. O Emocionário é um dicionário de emoções que te impulsionará para um voo muito especial… E vais ver que nunca mais quererás deixar de bater as asas.
Este é um livro especial e que pode ajudar qualquer pessoa a aprender a expressar aquilo que sente, através de uma viagem emocional em que diferentes estados de espírito se sucedem desde a ternura até à gratidão, passando pela timidez, desalento, esperança ou serenidade. Ao embarcarmos nesta viagem, fazemos uma reflexão sobe o que sentimentos e tentamos identificar o que podemos estar a sentir. Em conjunto com a criança, importa olhar este Emocionário em diferentes fases, conforme a maturidade da criança e o seu nível de desenvolvimento. Não existe um caminho único pelas diferentes emoções. E nem esta viagem pode ficar encerrada entrevas páginas de um livro. Caberá ao adulto identificar a melhor abordagem a fazer, sem nunca esquecer de ser congruente e fiel aquilo que ele próprio está a sentir em cada momento.
Emoções: Quando o mostro chega até nós
“O Monstro das Cores”, de Anna Llenas e editado pela Nuvem de Letras, deverá ser um dos livros mais conhecidos para trabalhar as emoções com os mais pequenos. Tem diferentes versões, desde a mais tradicional e a da ida à escola, passando pela versão pop up e de colorir e terminando num jogo de emoções. Trata-se de um livro em que se associa cada emoção a uma cor, sendo as diferentes emoções explicadas às crianças através da personagem principal, “um monstro que muda de cor consoante o que está a sentir. Ele não percebe porque muda de cor e a sua amiga, a menina, explica-lhe o que significa estar triste, estar alegre, ter medo, estar calmo e sentir raiva” (a partir de Wook.pt).
Este livro tem a mais-valia de estar inserido no Plano Nacional de Leitura, sendo adequado à faixa etária entre os 6 e 8 anos. Apesar de estar indicado para esta idade, isso não significa que não possa ser usado antes. Conforme escrevi antes, o estado de maturidade da criança dita a forma como devemos abordar os diferentes temas com ela. Como pais, cuidadores e educadores, devemos passar tempo a observar as nossas crianças e a perceber o nível de desenvolvimento em que elas se encontram. São elas o nosso guia e que nos vai dizer o que introduzir em cada momento. Se quiserem saber mais sobre o ritmo das crianças, leiam o blog da Sylvia Sousa, Mindful Montessori, e o maravilhoso trabalho que ela faz quanto a actividades que respeita, o ritmo e o interesse da criança.
Emoções: Quando tudo nos parece um novelo…
Quem nunca se sentiu num novelo de emoções?! Elizabete Neves, a pensar exactamente neste estado, fala-nos sobre a importância de desenlear o novelo das emoções no seu recente livro “O novelo de emoções”, editado pela Porto Editora. Através da história de Marta e de Sukha, viajamos através do universo das emoções com um novelo de fios de cinco cores diferentes, para conseguirmos “reconhecer as emoções, que não são boas nem más, mas que nos transmitem sempre uma mensagem. Cabe a cada um de nós descobrir qual é” (a partir de Wook.pt).
A mensagem deste livro, adequado à faixa etária dos 6 aos 10 anos, é bastante importante: não existe uma emoção que seja certa ou errada. Todas são válidas e todas podem existir em nós. Cabe-nos a nós, em cada momento, puxar o fio da emoção certa e conduzir-nos para um estado em estejamos bem connosco próprios. É este o trabalho fundamental a fazer com os mais pequenos: não estamos sempre contentes nem sempre tristes. Todos os sentimento são permitidos e não devemos ter medo em demonstrá-los. Ter emoções é correcto. Aprender a regulá-las também mas não existe uma receita mágica que nos ensine a fazer isso. O adulto também aprende em todo este processo. E é essa aprendizagem em conjunto que torna a regulação emocional uma viagem mais duradoura no tempo. Os novelos existem para serem desenleados… Cabe-nos a nós explicar isso às crianças mostrando qual o fio a puxar em cada momento!
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